“Aqueles que lutam para viver”: a re-fundação do Estado a partir dos “Ciclos Constitucionais Pluralistas”

Autores

Palavras-chave:

Estados nacionais, Ciclos Constitucionais Pluralistas, povos indígenas

Resumo

A formação dos Estados nacionais pelas elites nacionais criolla-mestiças na América Latina representou mais uma sistemática e histórica forma de exclusão e subalternização de todas as possibilidades organizativas dos povos indígenas. Formação essa, que, no constitucionalismo, operou-se pelo silenciamento, além do não reconhecimento da diversidade étnica e de suas autonomias, frente à monoetnicidade, ao monoculturalismo, ao uni-nacionalismo, à homogeneização e ao monismo jurídico do Estado-Nação. A década de 1980 é a precursora na mudança constitucional dos direitos dos povos indígenas, “el horizonte del constitucionalismo pluralista”, que é dividido em três ciclos: multicultural, pluricultural e plurinacional. O objetivo do presente artigo é apresentar as mudanças jurídico-institucionais ocorridas nos ciclos constitucionais pluralistas, desde as superações ideológicas/jurídico-institucionais às suas rupturas com o mito do “Estado Nação”, de modo a descrever a consolidação do mito do Estado nacional antes e após o marco de 1980, os principais direitos indígenas que foram conquistados durante os referidos ciclos, além das influências dos documentos internacionais e nacionais à população indígena. Para tanto, utilizou-se como marco os estudos decoloniais e a “interculturalidade crítica”. Trabalhou-se com o questionamento de como se deram as transformações jurídico-institucionais que ocorreram para cada ciclo pluralista de acordo com seus marcos temporais em relação aos direitos dos povos indígenas. Ao final, apresenta-se que o clico multicultural representou o reconhecimento dos direitos indígenas, embora tenha apenas superado ideologicamente o pensamento hegemônico de sua época - o integracionismo; quanto aos ciclos posteriores, o pluricultural e plurinacional, ambos possibilitaram rupturas decoloniais nas estruturas do Estado, apesar daquele ter suas conquistas neutralizadas pela política neoliberal, o último, re-fundou o Estado em suas próprias bases, estas da decolonialidade e pautadas na interculturalidade crítica, contudo, fazendo-se necessário reconhecer sempre os limites de se efetivar o que se garantiu nas constituições.

Biografia do Autor

Leonardo Evaristo Teixeira, Universidade Federal de Goiás, Jataí, Goiás, Brasil

Graduando em Direito pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e em mobilidade estudantil pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). 

Referências

CLASTRES, Pierre. A sociedade contra o Estado: pesquisas de antropologia política. Traduzido por Theo Santiago. São Paulo: Cosac Naify, 2003.

CONSTITUICIÓN Política Feminista del Estado, 2008. Disponível em: <https://www.mujerescreando.org/pag/articulos/2008/cosntitucionpoliticadelestado.htm >. Acesso: mar. 2018.

DECLARACIÓN de Barbados I, 1971. Disponível em: < http://www.libertadciudadana.org/archivos/Biblioteca%20Virtual/Documentos%20Informes% 20Indigenas/Documentos%20Internacionales/Declaracion%20de%20los%20Pueblos%20Indi genas/Declaracion%20Barbados%201971.pdf >. Acesso fev. 2017.

DUSSEL, Enrique. 1492 – el encubrimiento del Otro: hacia el origen del “mito de la Moderdnidad”. La Paz: Plural editores, 1994.

FONSECA, Lívia Gimenes da. Despatriarcalizar e Decolonizar o Estado Brasileiro: um olhar pelas políticas públicas para mulheres indígenas. 2016. Tese de doutorado – Faculdade de Direito, Universidade de Brasília, Brasília.

GAVERNET, Leticia; MONTE, María Eugenia. La incorporación de los derechos sexuales y reproductivos en las constituciones de Argentina, Venezuela, Ecuador y Bolivia. In: MÓRAN

FAGUNDES, José Manuel (edit.). Sexualidades, desigualdades y derechos: reflexiones en torno a los derechos sexuales y reproductivos. Córdoba: Ciencia, Derecho y Sociedad Editorial, 2012. Disponível em: < https://programaddssrr.files.wordpress.com/2013/05/la- incorporacic3b3n-de-los-derechos-sexuales-y-reproductivos-en-las-constituciones-de- argentina-venezuela-ecuador-y-bolivia.pdf >. Acesso mar. 2018.

HOBSBAWN. Eric. A construção das nações. In: A Era do Capital – 1848-1875. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, p. 97-112, 1982.

_____. Nações e Nacionalismo desde 1789: programa, mito e realidade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.

LACERDA, Rosane Freire. “Volveré, y Seré Millones”: contribuições descoloniais dos movimentos indígenas latino americanos para a superação do mito do Estado-Nação. 2014. Tese de doutorado – Faculdade de Direito, Universidade de Brasília, Brasília.

MARÍN, María Paz; WASSMANSDORF, Marina Lis. El movimiento indígena y el feminismo desde AbyaYala: Una perspectiva poscolonial de la sexualidad feminina. Disponível em: <http://www.idaes.edu.ar/pdf_papeles/16.%20Wassmansdorf%20artigo%20estudos%20poscoloniais%20feminismo%20descolonial%20bs%20as.pdf >. Acesso mar. 2018.

NACIONES UNIDAS. Declaración de las Naciones Unidas sobre los derechos de los pueblos indígenas. Publicado: mar/2008. Disponível em: < http://daccess-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/N06/512/10/PDF/N0651210.pdf?OpenElement >. Acesso maio 2017.).

ORGANIZACIÓN INTERNACIONAL DEL TRABAJO (OIT). Convenio sobre pueblos indígenas y tribales, 1989 (núm. 169). Disponível em: < https://www.ilo.org/dyn/normlex/es/f?p=NORMLEXPUB:12100:0::NO::P12100_ILO_CODE:%20C169 >. Acesso mar. 2017.

_____. Convenio sobre poblaciones indígenas y tribales, 1957 (núm. 107). Convenio relativo a la protección e integración de las poblaciones indígenas y de otras poblaciones tribales y semitribales en los países independientes. Disponível em: <http://www.ilo.org/dyn/normlex/es/f?p=1000:12100:0::NO::P12100_ INSTRUMENT_ID,P12100_LANG_CODE:312252,es >. Acesso mar. 2017.

QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do Poder, Eurocentrismo e América Latina. In: Edgardo LANDER (Org.). A Colonialidade do saber. Eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latinoamericanas. Colección Sur Sur, CLACSO. Ciudad Autônoma de Buenos Aires: Argentina, 2005.

SEGATO, Rita. Género y Colonilidad: del patriarcado comunitario de baja intensidad al patriarcado colonial moderno de alta intensidad. In: SEGATO, Rita. La crítica de la colonilidad en ocho ensayos: y una antropologia por demanda. Ciudad Autonoma de Buenos Aires: Prometeo Libros, 2013.

SOUSA SANTOS, Boaventura de. La refundación del Estado y los falsos positivos. In: BALDI, César A. (Coord.) Aprender desde o Sul: novas constitucionalidades, pluralismo jurídico e plurinacionalidade aprendendo desde o Sul. Belo Horizonte: Fórum, 2015.

TARDUCCI, Mónica. Abusos, mentiras y vídeos. A propósito de la niña wichi. Boletín de Antropología y Educación, Año 4, n. 5, 2013. Disponível em: < http://hum.unne.edu.ar/generoysex/seminario4/s4clase2_3.pdf >. Acesso mar. 2018.

WALSH, Catherine. Interculturalidad, plurinacionalidad y decolonialidad: las insurgencias político-epistémicas de refundar el Estado. Tabula Rasa, Bogotá, n. 9, p. 131-152, dec. 2008.

WOLKMER, Antonio Carlos; FAGUNDES, Lucas Machado. Estado plurinacional e pluralismo jurídico. Pensar. Revista de Ciências Jurídicas. Fortaleza: Unifor. v.16, n. 2, jul./dez. 2011. p. 371-408.

Y-JUCA-PIRAMA – O índio: aquele que deve morrer. Dez/1973. Disponível em: < https://issuu.com/porantim/docs/120823131950-87492f2fdeed452da6721d1cb19b9d17 >. Acesso fev. 2017.

YRIGOYEN FAJARDO, Raquel. El Horizonte del Constitucionalismo Pluralista: del multiculturalismo a la descolonización. In: César Rodríguez GARAVITO (Coord.). El Derecho en America Latina: Un mapa para el pensamiento jurídico del siglo XXI. Buenos Aires: Siglo Veinteiuno Editores, 2011, p.139-159.

_____. Hitos del Reconocimiento del Pluralismo Juridico y el Derecho Indígena en las Políticas Indigenistas y el Constitucionalismo Andino. In: BERRAONDO, Mikel (Coord.) Pueblos Indígenas y Derechos Humanos. Bilbao: Universidad di Deusto, 2006.

Downloads

Publicado

2018-04-13

Como Citar

Teixeira, L. E. (2018). “Aqueles que lutam para viver”: a re-fundação do Estado a partir dos “Ciclos Constitucionais Pluralistas”. aptura Críptica: reito, política, tualidade, 6(1), 165–189. ecuperado de https://ojs.sites.ufsc.br/index.php/capturacriptica/article/view/3072

Edição

Seção

Críptica