Capitalismo, racismo e aprofundamento das assimetrias sociais: um ensaio com vistas à problematização das iniquidades étnico-raciais
Palavras-chave:
Racismo, Capitalismo, Assimetrias sociais, Exclusão socialResumo
O presente estudo objetivou apresentar uma análise crítico-reflexiva e problematizadora frente ao racismo brasileiro e como este vai se constituindo em paralelo ao desenvolvimento do sistema capitalista. Trata-se, metodologicamente, de um trabalho ensaístico, inclusive, baseado em bibliografias e ideais de autores/as do debate relacionado ao objeto deste ensaio, como por exemplo, Gomes (2005); Almeida (2017); Batista e Mastrodi (2018); entre outros/as considerados/as igualmente importantes frente à temática. Para tal, o texto foi sistematizado da seguinte forma: a) Na parte introdutória refletiremos sobre a relação entre o desenvolvimento do capitalismo e o surgimento das bases que dão origem ao racismo (estrutural e institucional) na sociedade brasileira e a forma como os “corpos negros” são afetados; b) Na segunda seção, reflexionamos de forma breve alguns aspectos de um corpo (negro) que “pode quase nada”; dando continuidade a esta seção, relacionaremos os processos e desdobramentos do racismo dentro da construção organizacional de nossa sociedade; c) Na terceira seção, voltamos a nossa atenção para as questões ligadas ao racismo, entendendo-o enquanto ferramenta para o aprofundamento das assimetrias sociais; d) Por fim, tecemos nossas considerações sugerindo uma criticidade imutável a respeito da temática e uma aliança entre os corpos (negros) como via de resistência, bem como de corpos LGBT´s, deficientes, indígenas etc., com a premissa de contribuir para promoção de uma sociedade justa, humana e igualitária – em que a diferença não seja vista como sinônimo de desigualdade e que, muito menos, a cor da pele de uma pessoa seja determinante para sua ascensão pessoal e profissional. Considerando a necessidade de superação do paradigma ultraneoliberalista, cuja estratégia habitual culpabiliza o sujeito por sua situação de vulnerabilidade, e o atual momento político-social brasileiro, decorrente do recente Governo Bolsonaro – símbolo dessas questões – propomo-nos tecer reflexões diante do cenário brasileiro em intersecção com as áreas da educação, saúde e assistência social, que foram drasticamente afetadas e desmobilizadas principalmente nos últimos quatro anos (2019-2022).
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