Mulheres ou bruxas? A invenção da mulher menos humana

Autores

Palavras-chave:

Direitos Humanos, Caça à Bruxas, Feminismo marxista

Resumo

O presente artigo pretende entender as diferenças do reconhecimento de direitos humanos atribuíveis a homens e mulheres. Investigando historicamente a invenção desses direitos no bojo das revoluções liberais, tem-se que a categoria de “não-humanos” foi o outro lado da moeda desse momento tão entoado: igualdade, liberdade e fraternidade sim - mas apenas para um padrão específico. Um padrão que é masculino e foi sendo marcado em superioridade ao longo dos mais de dois séculos da perseguição das mulheres como bruxas. Para entender a invenção da “mulher não-humana” é, portanto, fundamental revisitar criticamente a prolongada caça às bruxas na Europa, responsável pelo assentamento das diferenciações de gênero e pela estruturação de um sistema de exploração das mulheres que possibilitasse a sobrevivência do capitalismo. A mulher não-humana foi, pois, estrategicamente construída como um pilar da sociedade capitalista.

Biografia do Autor

Erna Holzinger, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil

Mestranda na área de estudos “Crítica Marxista ao Direito” na Universidade Federal de Minas Gerais. Bacharela em Direito pela Universidade de São Paulo. Advogada e militante.

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Publicado

2022-12-19

Como Citar

Holzinger, E. (2022). Mulheres ou bruxas? A invenção da mulher menos humana. aptura Críptica: reito, política, tualidade, 11(1), 47–60. ecuperado de https://ojs.sites.ufsc.br/index.php/capturacriptica/article/view/5710

Edição

Seção

Críptica