Mulheres ou bruxas? A invenção da mulher menos humana
Palavras-chave:
Direitos Humanos, Caça à Bruxas, Feminismo marxistaResumo
O presente artigo pretende entender as diferenças do reconhecimento de direitos humanos atribuíveis a homens e mulheres. Investigando historicamente a invenção desses direitos no bojo das revoluções liberais, tem-se que a categoria de “não-humanos” foi o outro lado da moeda desse momento tão entoado: igualdade, liberdade e fraternidade sim - mas apenas para um padrão específico. Um padrão que é masculino e foi sendo marcado em superioridade ao longo dos mais de dois séculos da perseguição das mulheres como bruxas. Para entender a invenção da “mulher não-humana” é, portanto, fundamental revisitar criticamente a prolongada caça às bruxas na Europa, responsável pelo assentamento das diferenciações de gênero e pela estruturação de um sistema de exploração das mulheres que possibilitasse a sobrevivência do capitalismo. A mulher não-humana foi, pois, estrategicamente construída como um pilar da sociedade capitalista.
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