Garota, Interrompida: uma análise da institucionalização da passagem à vida adulta

Autores

  • Flavia Gizzi Universidade Federal de Santa Catarina
  • Matheus Maciel Silveira Universidade Federal de Santa Catarina
  • Pâmela Marcela Martins Universidade Federal de Santa Catarina

Resumo

A partir da análise do filme “Garota, Interrompida” (Mangold, 1999), adentramos na
discussão sobre as práticas de institucionalização compulsória daqueles que manifestam um
sofrimento psíquico característico do período de transição da adolescência à vida adulta. Com
base em cenas do filme construímos categorias de análise como medicalização nas
instituições psiquiátricas e vínculo entre internas e escuta terapêutica, propusemos um olhar
crítico sobre as práticas que visam a padronização da conduta e o silenciamento de toda
manifestação das singularidades como cura. A partir de cenas selecionadas convidamos à
observação de como práticas observadas no filme podem ser percebidas na realidade das
instituições psiquiátricas, e refletem um cotidiano velado. Traçando o percurso da
adolescência à vida adulta como período conturbado, destacamos a ausência de acolhimento
advindo da não conformidade com uma expectativa de sociabilização e a falta de vínculos
como principais motivos de um sofrimento que será patologizado, diagnosticado e utilizado
como motivo para a institucionalização. Pretendemos com esse trabalho ramificar a discussão
sobre o ímpeto social à patologização do sofrimento psíquico inerente à humanidade.

Biografia do Autor

Flavia Gizzi, Universidade Federal de Santa Catarina

Departamento de Psicologia

Matheus Maciel Silveira, Universidade Federal de Santa Catarina

Departamento de Psicologia

Pâmela Marcela Martins, Universidade Federal de Santa Catarina

Departamento de Psicologia

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Publicado

2021-07-14