Garota, Interrompida: uma análise da institucionalização da passagem à vida adulta
Resumo
A partir da análise do filme “Garota, Interrompida” (Mangold, 1999), adentramos nadiscussão sobre as práticas de institucionalização compulsória daqueles que manifestam um
sofrimento psíquico característico do período de transição da adolescência à vida adulta. Com
base em cenas do filme construímos categorias de análise como medicalização nas
instituições psiquiátricas e vínculo entre internas e escuta terapêutica, propusemos um olhar
crítico sobre as práticas que visam a padronização da conduta e o silenciamento de toda
manifestação das singularidades como cura. A partir de cenas selecionadas convidamos à
observação de como práticas observadas no filme podem ser percebidas na realidade das
instituições psiquiátricas, e refletem um cotidiano velado. Traçando o percurso da
adolescência à vida adulta como período conturbado, destacamos a ausência de acolhimento
advindo da não conformidade com uma expectativa de sociabilização e a falta de vínculos
como principais motivos de um sofrimento que será patologizado, diagnosticado e utilizado
como motivo para a institucionalização. Pretendemos com esse trabalho ramificar a discussão
sobre o ímpeto social à patologização do sofrimento psíquico inerente à humanidade.
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