A linguagem da poluição: encobrimento e apropriação da Terra

Autores

Palavras-chave:

poluição, linguagem, Michel Serres, psicanálise, crise ambiental

Resumo

Tecendo um diálogo entre a filosofia e a psicanálise freudo-lacaniana, colocarei em discussão neste artigo algumas perspectivas sobre o lugar preponderante que a poluição ocupa no contexto específico da crise ambiental. A partir de três proposições sustentadas pelo filósofo, pensador da Terra, Michel Serres – a ideia de uso do mundo natural como palco de representações, a tese de que a nossa linguagem tem horror ao ruído do mundo e o entendimento da poluição como uma modalidade de encobrimento e apropriação do mundo natural –, apresentarei a tese do funcionamento da poluição como um operador de linguagem cujo efeito se presentifica como dilatador antrópico, em função da tentativa de limpeza do que rasura ou escapa à linguagem, de modo pensar a relação de oposição e recusa da Terra, estabelecida na ontologia ocidental e amplificada pelo capitalismo.

Biografia do Autor

Luanda Francine Garcia da Costa, Diversitas-USP

Mestre em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP.  Graduada em Filosofia pela mesma instituição. Psicanalista. Coordenadora do Grupo de Pesquisa sobre Ética e Direitos dos Animais do Diversitas-USP (Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos, FFLCH, USP).

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Publicado

2022-01-19