“Meu nome é Legião”: sobre verdade e ciência num sentido extrametodológico

Autores

Palavras-chave:

ciência, filosofias da diferença, ontologia, simulacro, verdade

Resumo

No presente texto, ensaiam-se reflexões sobre a verdade num sentido extrametodológico, mormente concernente às ciências. Usa-se de uma conhecida cena bíblica, a Legião de demônios, objetivando-se expor a importância do aspecto ontológico no campo da (produção de) verdade e nos modos de fazer acadêmico. Assim, lançando-se mão das noções deleuzo-guattarianas de “ciência régia” e “ciência nômade”, vai-se diferenciar dois modos ontologicamente distintos de se relacionar com a verdade, especialmente no que tange à multiplicidade e ao simulacro. Disso extraem-se dois tipos de verdade: uma, régia, é pautada em (I) vontade de verdade, (II) bondade da verdade, (III) unicidade da verdade e (IV) imutabilidade da verdade, em que a verdade opera como processo de confissão, descoberta e generalização; outra, nômade, é pautada em (I) invenção pré-individual, (II) prática, (III) acontecimento ou instauração, em que a verdade opera como intensão, invenção e diferenciação. A ontologia da verdade nômade, assim, permite ao pensamento lidar com multiplicidade incorporal (a Legião) sem a nulificar, disciplinar ou apartar. Ambos os tipos influenciam, então, não só na relação estritamente “epistêmica” com a verdade, mas nos modos de vida que essa relação produz, multiplica, potencializa ou, ao revés, aniquila, restringe ou enfraquece.

Biografia do Autor

Luiz Guilherme Augsburger, Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC

Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Educação da UDESC

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Publicado

2022-09-24

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Artigos