Seria a intolerância aos ateus na Primeira Carta consequência necessária da teoria da motivação do Ensaio?
Palavras-chave:
Locke, tolerância, ateus, motivação, autointeresse, probabilidade.Resumo
Resumo
Na sua Primeira Carta Sobre a Tolerância, Locke afirma que ateus não devem ser tolerados, pois não reconhecem deveres e não são confiáveis nas relações em sociedade. Os comentadores, embora lamentando esta afirmação, consideram-na conclusão inevitável de dois pontos da teoria lockiana da motivação moral exposta no Ensaio sobre o Entendimento Humano: a dependência dos deveres em relação ao medo da punição e o papel do medo da punição divina na suplementação do medo da punição humana. Neste artigo, proporemos dois contra-argumentos à explicação dos comentadores. O primeiro, de que motivos de autointeresse inteiramente compatíveis com a teoria da motivação do Ensaio poderiam servir de motivação para a conduta moral dos ateus em sua vida civil. O segundo, de que ateus estariam pelo menos na mesma condição de crentes que desafiam a punição divina em que creem, sendo, assim, merecedores pelo menos da mesma tolerância. Pretendemos mostrar que, mesmo aceitando todas as premissas sobre motivação moral do Ensaio, é ainda possível recomendar aos ateus melhor tratamento.
Palavras-Chave
Locke, tolerância, ateus, motivação, autointeresse, probabilidade.
Abstract
In his First Letter Concerning Toleration, Locke states that atheists must not be tolerated, for they fail to recognize duties and are not trustable in their social relations. Locke’s commentators, while deploring that statement, regard it as the inevitable conclusion from two points of the Lockean theory of moral motivation presented in An Essay Concerning Human Understanding: the dependence of duties from the fear of punishment and the role of the fear of divine punishment in supplementing the fear of human punishment. In this article, we will offer two counterarguments to the commentators’ explanation. The first one is that self-interest motives entirely compatible with the Essay’s theory of motivation could enhance motivation for a moral behavior of atheists in their civil life. The second, that atheists would be at least in same position of those believers who challenge the divine punishment they believe in, therefore deserving at least of the same amount of tolerance. We intend to show that, even though we accept all Essay’s premises on moral motivation, we could still recommend a better treatment to the atheists.
Keywords
Locke, tolerance, atheists, motivation, self-interest, probability.
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