Confiança nos outros e diálogo
Palavras-chave:
Dependência epistêmica, Confiança, Diálogo, Desacordo, Agência ConjuntaResumo
Neste artigo, examino a defesa de Hardwig da dependência epistêmica e da confiança, concordando com sua crítica ao individualismo epistemológico e sua proposta de reformular nossa concepção de crenças justificadas e indivíduos racionais. Também apoio sua visão de que determinado conhecimento pertence a uma comunidade humana e não a um agente epistêmico individual. No entanto, amplio as implicações de sua defesa da confiança, inerente à noção de dependência epistêmica. Argumento que a confiança deve ser explorada além das relações testemunhais e dos exemplos limitados ao conhecimento científico. De acordo com as próprias intuições de Hardwig, o conhecimento não é apenas algo que compartilhamos, transmitimos ou recebemos; ele pode ser resultado de uma agência conjunta. O exemplo mais claro dessa agência conjunta é encontrado no diálogo ou na conversa. Além disso, o conhecimento compartilhado tem um valor epistêmico que ultrapassa o acúmulo de informações individuais. Em um diálogo genuíno, os participantes disputam perspectivas e revisão suas crenças, o que resulta em um conhecimento mais robusto e bem fundamentado, essencial para abordar questões complexas em que as perspectivas individuais podem ser insuficientes. Para me aprofundar, exploro a noção de “diálogo entre iguais” de Hardwig (1971) no contexto de problemas morais. A aplicação desse conceito a questões epistemológicas oferece uma estrutura valiosa para entender como os agentes epistêmicos podem chegar coletivamente ao conhecimento e resolver desacordos. Proponho que o conhecimento obtido por meio do diálogo cooperativo não apenas complementa, mas também transcende as limitações do conhecimento individual, afirmando que a confiança e a dependência epistêmica são cruciais tanto para a transmissão do conhecimento quanto para sua criação e manutenção colaborativas em uma comunidade epistêmica.
Referências
Anscombe, G.E.M. (1979). “What is it to believe someone?”. In: Faith in a Hard Ground: Essays on Religion, Philosophyand Ethics by G.E.M. Anscombe. Edited by Mary Geach and Luke Gormally. Exeter, Charlottesville : Imprint Academic, 2008, pp. 1-10.
Baier, A. (1986). “Trust and Antitrust”. In: Ethics, vol. 96, n. 2, pp. 231–260.
Baker, J. (1987). “Trust and Rationality”. In: Pacific Philosophical Quarterly, vl. 68, n. 1, pp. 1-13.
Clark, H. H. 1996. Using Language. Cambridge :Cambridge University Press.
Coady, C.A.J. (1992). Testimony: A Philosophical Study. Oxford: Clarendon Press.
D’Cruz, Jason (2019). “Humble Trust”. Philosophical Studies, vol. 176, n. 4, pp. 933–953.
Faulkner, P. & Simpson, T. (eds) (2017). The Philosophy of Trust. Oxford: Oxford University Press.
Fricker, E. (1987). “The Epistemology of Testimony”. In: Aristotelian Society Supplementary Volume, vol. 61, pp. 57–83.
Fricker, E. (1994). “Against Gullibility”. In: Chakrabarti, A. & Matilal, B. K. (eds.). Knowing from Words. Kluwer Academic Publishers, pp. 125-162.
Fricker, M. (2007). Epistemic Injustice: Power and the Ethics of Knowing. Oxford: Oxford University Press.
Goldberg, S. C. (2020). Conversational Pressure. Oxford : Oxford University Press.
Greco, J. 2021. The Transmission of Knowledge. Cambridge : Cambridge University Press.
Grice, H. P. 1989. Studies in the way of words. Cambridge, MA : Harvard University Press.
Hardwig, J. (1973). “The achievement of moral rationality”. Philosophy & Rhetoric, vol. 6, n. 3, pp. 171-185.
Hardwig, J. (1985). “Epistemic dependence”. In: Journal of Philosophy, n. 82, pp. 335-349.
Hardwig, J. (1991). “The role of trust in knowledge”. In: The Journal of Philosphy, vol. 88, n. 12, pp. 693-708.
McKenna, M. 2012. Conversation and Responsibility. Oxford : Oxford University Press.
McMyler, B. (2011). Testimony, Trust, and Authority. Oxford : Oxford University Press.
McMyler, B. (2017). “The problem of trust”. In: Faulkner, P. & Thomas Simpson, T. (eds.). The Philosophy of Trust. Oxford : Oxford University Press, pp. 109-128.
Mercier, H. & Sperber, D. (2017). The Enigma of Reason: A new theory of human understanding. New York : Penguin.
Simon, J. (ed.) (2020) The Routledge Handbook of Trust and Philosophy. New York: Routledge.
Walton, D. N. 1992. Plausible Argument in Everyday Conversation. New York : SUNY Press.
Wanderer, J. & Townsend, L. (2013). “Is it Rational to Trust?”. Philosophy Compass, vol. 8, n. 1, pp.1-14.
Zagzebski, L. (2014). “Trust”. In: Timpe, K. & Boyd, C. A. (ed.) Virtues & Their Vices. Oxford : Oxford University Press, pp. 269-283.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Waldomiro J. Silva Filho
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.
- Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Creative Commons Attribution License que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria do trabalho e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).