Da necessidade de aumentar a diversidade cultural no ensino universitário de filosofia
Palavras-chave:
pluriversalidade; ensino de filosofia; identidade psicossocial.Resumo
É um fato que os(as) estudantes brasileiros(as) são formados por diversas matrizes culturais, majoritariamente indígenas, europeias e africanas. Porém, até o presente ano de 2023, somente o pensamento das matrizes europeias tem sido ensinado de forma suficiente nos cursos de Filosofia. Assim, em termos de representatividade, o ensino de filosofia no Brasil não reflete satisfatoriamente todas as matrizes filosóficas culturais de filosofia dos(as) seus estudantes. Há, ao contrário, um distanciamento cultural entre o que é ensinado e o que compõe culturalmente os agentes sociais que estão a se formar e Filosofia. O problema não que inexistem filosofias além da matriz europeia, mas que filosofias fora dessa matriz são sistematicamente ignoradas nos currículos. Contra essa situação, neste ensaio defendo que há a necessidade de aumentar a diversidade cultural do que é ensinado nos cursos de filosofia. Apresentarei dois argumentos: (1) um centrado em leis, (2) outro fundamentado na noção de representatividade psicossocial. Levanto a hipótese de que o aumento da diversidade pode levar a mais adesão e engajamento de estudantes nos cursos de Filosofia. Concluo levantando as vantagens e desvantagens dessa abertura e diversificação cultural nos currículos de Filosofia, e possíveis formas de superar as desvantagens.
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