“Se você é queijeiro tem que pegar todo o tipo de queijo”

Tradicionalidades e tecnicidades na comercialização de queijos artesanais na Canastra, Minas Gerais

Autores

  • Leonardo Vilaça Dupin

Palavras-chave:

Campesinato, queijos artesanais, tecnodiversidade, microbiopolítica

Resumo

Este artigo aborda a comercialização dos queijos artesanais produzidos na Canastra, uma região situada no sudoeste de Minas Gerais reconhecida nacionalmente pela notoriedade da produção. Ali, a fabricação dos queijos “nas roças”, presente desde o período colonial, está profundamente inserida em modos de vida e na cultura alimentar da população, sendo que sua comercialização tem enorme importância econômica para um conjunto de municípios de perfil marcadamente rural. Porém, a atividade vem sendo progressivamente ilegalizada por instrumentos e mecanismos microbiopolíticos associados ao Estado moderno, sendo alvo de fiscalizações, multas e apreensões, que recaem recorrentemente sobre os chamados “queijeiros”, intermediários especialistas que recolhem queijos nas zonas rurais e os distribuem em centros urbanos. O foco deste artigo será analisar a atuação desses atores sociais que estão atreladas ao universo camponês. As formas próprias de governo desses atores e suas sofisticadas tecnicidades têm sido responsáveis pela distribuição do alimento em grande escala, mesmo que a margem das legislações, certificações e processos de salvaguarda, e tem evitado a precarização das condições de vida nesses munícipios.

Biografia do Autor

Leonardo Vilaça Dupin

Pós-doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia da USP. Email: leodupin@hotmail.com

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Publicado

2025-01-24

Como Citar

DUPIN, . V. “Se você é queijeiro tem que pegar todo o tipo de queijo”: Tradicionalidades e tecnicidades na comercialização de queijos artesanais na Canastra, Minas Gerais. Cadernos NAUI, [S. l.], v. 13, n. 25, p. 10–34, 2025. Disponível em: https://ojs.sites.ufsc.br/index.php/naui/article/view/7798. Acesso em: 22 fev. 2025.

Edição

Seção

Dossiê Temático