As estátuas também se abatem

momentos da descolonização em Moçambique

Autores

  • Maria Paula Meneses Universidade de Coimbra

Palavras-chave:

Monumentos públicos, descolonização, Sul global

Resumo

A toponímia e os monumentos públicos constituíram a expressão simbólica da afirmação do poder colonial. A partir de finais do séc. XIX, as memórias e identidades coloniais foram inscritas em Lourenço Marques (atual Maputo) pela administração portuguesa. Com a transição para a independência, as referências coloniais e as estruturas de poder que procuravam afirmar foram desafiadas quando as estátuas foram removidas da cidade e a toponímia sofreu profundas alterações. Partindo do estudo das alterações feitas na atual Praça da Independência, incluindo a mudança de topônimos e a alteração de várias infraestruturas, este artigo procura analisar os projetos políticos que dinamizaram a descolonização da paisagem monumental da praça, sinal da mudança epistêmica que se anunciava

Biografia do Autor

Maria Paula Meneses, Universidade de Coimbra

Moçambicana, é investigadora principal do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, tendo participado em vários projetos de investigação que estudam as características da política colonial moderna na zona austral do continente africano, com enfoque em Moçambique e Angola. Email: menesesp@fe.uc.pt; menesesp@ces.uc.pt.

Referências

ALBUQUERQUE, Joaquim Mouzinho de. A Prisão do Gungunhana. Lourenço Marques:

Typographia Nacional de Sampaio e Carvalho, 1896.

ALBUQUERQUE, Joaquim Mouzinho de. Moçambique 1896-1898. Lisboa: Manoel Gomes Editor,

ALBUQUERQUE, Joaquim Mouzinho de. Livro das Campanhas, 2. Lisboa: Agência Geral das

Colónias, 1935.

ANDERSON, Benedict. Imagined Communities. Reflections on the origin and spread of

nationalism. London: Verso, 1983.

ANDRADE, Onofre Lourenço de. Presídio de Lourenço Marques no período de 24 de novembro a

de abril de 1865. Lisboa: Typographia Rua do Bemformoso, 1867.

BAUDRILLARD, Jean. Simulacra and Simulation. Ann Arbor: University of Michigan Press, 1994.

CARTER, Paul. The Road to Botany Bay. An Essay in Spatial History. London: Faber and Faber,

CASTELA, Tiago; MENESES, Maria Paula. Naming the Urban in Twentieth-Century Mozambique:

towards spatial histories of aspiration and violence. In: SILVA, Carlos Nunes (Org.). Urban Planning

in Lusophone African Countries. London: Routledge, 2015, p. 215-223.

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA. História de Moçambique. Maputo, Imprensa Universitária, v.

, 2000.

EKEH, Peter P. Colonialism and the Two Publics in Africa: A Theoretical Statement, Comparative

Studies in Society and History, v. 17, n. 1, p. 91-112, jan. 1975.

ENNES, António. Moçambique. Relatório apresentado ao governo. Lisboa: Agência Geral do

Ultramar, 1971 [1893].

GOMES DA COSTA, Capitão Manuel. Gaza, 1897-1898. Lisboa: Manuel Gomes Editor, 1899.

GROVIER, Kelly. Black Lives Matter protests: Why are statues so powerful? BBC, 12 jun. 2020.

Disponível em: www.bbc.com/culture/article/20200612-black-lives-matter-protests-why-are-statuesso-powerful. Acesso em: 5 jan. 2021.

HALL, Stuart. The West and the Rest: Discourse and Power. In: HALL, Stuart; GIEBEN, Bram

(Org.). Formations of Modernity. Cambridge: Polity Press, 1992. p. 275-331.

INSTITUTO NACIONAL DE ESTATÍSTICA. IV recenseamento geral da população 1970. V. 1,

Distrito de Lourenço Marques. Lourenço Marques: Direcção dos Serviços de Estatística de

Moçambique, 1973.

LAGE, Jéssica. Influências no Processo de Formação do Tecido Urbano nos Bairros Pericentrais de

Maputo: o caso de Chamanculo C, Maxaquene A e Polana Caniço A, Revista de Morfologia Urbana,

Porto, v. 6, n. 2, 2018. Disponível em:

http://revistademorfologiaurbana.org/index.php/rmu/article/view/105. Acesso em: 3 dez. 2020.

KHAMBANE, Chitlango; CLERC, André Daniel. Chitlango, filho de chefe. Maputo: Cadernos

Tempo, 1990.

KHOSA, Ungulani Ba Ka. Ualalapi. Lisboa: Caminho, 1990.

LARSEN, Laragh. Re-placing Imperial Landscapes: colonial monuments and the transition to

independence in Kenya, Journal of Historical Geography, v. 38, p. 45-56, 2012.

LIESEGANG, Gerhard. Ngungunyane: A figura de Ngungunyane Nqumayo, Rei de Gaza 1884-1895

e o desaparecimento do seu Estado. Maputo: Colecção Embondeiro, ARPAC, 1996.

LOBATO, Alexandre. Lourenço Marques, Xilunguíne. Lisboa: Agência Geral do Ultramar, 1970.

LOOMBA, Ania. Colonialism/Postcolonialism. London: Routledge, 2002.

MENESES, Maria Paula. O ‘Indígena’ Africano e o Colono ‘Europeu’: a construção da diferença por

processos legais, E-cadernos CES, Coimbra, v. 7, p. 68-93, 2010. Disponível em: www.ces.uc.pt/ecadernos/media/ecadernos7/04%20-%20Paula%20Meneses%2023_06.pdf. Acesso em: 20 dez. 2020.

MENESES, Maria Paula. Só revendo o passado conheceremos o presente? Alguns dilemas das

descolonizações internas em Moçambique. Debates, Coimbra, v. 13, p. 56-66, 2013. Disponível em:

www.ces.uc.pt/publicacoes/cescontexto/ficheiros/cescontexto_debates_xiii.pdf. Acesso em: 20 dez.

MENESES, Maria Paula. como violência: a “missão civilizadora” de Portugal em Moçambique,

Revista Crítica de Ciências Sociais, Coimbra, n. especial, novembro de 2018. Disponível em:

https://journals.openedition.org/rccs/7741. Acesso em: 20 dez. 2020.

MONTEIRO, Armindo. Para uma Política Imperial. Alguns Discursos do Ministro das Colónias

Doutor Armindo Monteiro. Lisboa: Agência Geral das Colónias, 1933.

MUDIMBE, Valentin Y. The Invention of Africa: Gnosis, philosophy, and the order of knowledge.

Bloomington, IN: University of Indiana Press, 1988.

NDLETYANA, Mcebisi; WEBB, Denver A. Social Divisions Carved in Stone or Cenotaphs to a New

Identity? Policy for memorials, monuments and statues in a democratic South Africa, International

Journal of Heritage Studies, v. 23, n. 2, outubro de 2017.

NEVES, Dioclesiano Fernandes. Das Terras do Império Vátua às Praças da República Bóer,

editado por Ilídio Rocha. Lisboa: D. Quixote, 1987 [1878].

NORONHA, Eduardo de. O Districto de Lourenço Marques e a África do Sul. Lisboa: Imprensa

Nacional, 1895.

NUNES, José Lúcio de Sousa Gonçalves. Mouzinho de Albuquerque, Herói de África: Achegas

para uma Biografia Completa. Lisboa: Álvaro Pinto, 1955.

NYAMNJOH, Francis B. #RhodesMustFall. Nibbling at Resilient Colonialism in South Africa.

Mankon, Bamenda: Langaa RPCIG, 2016.

PENVENNE, Jeanne M. Two Tales of a City – Lourenço Marques, 1945-1975, Portuguese Studies

Review, v. 19, n. 1-2, p. 249-269, 2011.

RUFINO, José dos Santos. Álbuns Fotográficos e Descritivos da Colónia de Moçambique, v. 1,

Lourenço Marques – Panoramas da Cidade. Hamburg: Broschek & Co, 1929.

SAID, Edward. The Edward Said Reader. New York: Vintage Books, 2000.

SANTOS, Boaventura de Sousa. Epistemologies of the South and the Future, From the European

South, Padua, n. 1, junho de 2016. Disponível em:

http://europeansouth.postcolonialitalia.it/journal/2016-1/3.2016-1.Santos.pdf. Acesso em: 15 fev.

SANTOS, Boaventura de Sousa. O Fim do Império Cognitivo: a afirmação das epistemologias do

Sul. Belo Horizonte: Autêntica, 2019.

SANTOS, Boaventura de Sousa; MENESES, Maria Paula. Introducción – Las Epistemologías del Sur:

dar voz a la diversidad del Sur. In: SANTOS, Boaventura de Sousa; MENESES, Maria Paula (Org.).

Conocimientos Nacidos en las Luchas: constryuendo las Epistemologías del Sur. Madrid: Akal,

, p. 9-47.

SNODIA, Magudu; TASARA, Muguti; NICHOLAS, Mutami. Political dialoguing through the

naming process: The case of colonial Zimbabwe (1890-1980), Journal of Pan African Studies, v. 3,

n. 10, setembro de 2010. Disponível em: https://journals.ub.uniheidelberg.de/index.php/rihajournal/article/view/69808. Acesso em: 11 ago. 2020.

SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Subaltern Studies: Deconstructing Historiography. In: GUHA,

Ranajit; SPIVAK, Gayatri Chakravorty (Org.). Selected Subaltern Studies. Oxford: Oxford

University Press, 1985. p. 3-32.

THIONG’O, Ngugi wa. Decolonizing the Mind. The Struggle for Cultural Freedoms. London: James

Currey, 1993.

TROUILLOT, Michel-Rolph. Global Transformations: Anthropology and the Modern World. New

York: Palgrave Macmillan, 2003.

VERHEIJ, Gerbert. Art and politics in the former “Portuguese Colonial Empire”. The monument to

Mouzinho de Albuquerque in Lourenço Marques, Journal of the International Association of

Research Institutes in the History of Art, Munique, v. 2013, janeiro de 2013. Disponível em:

https://journals.ub.uni-heidelberg.de/index.php/rihajournal/article/view/69808. Acesso em: 11 ago.

WHEELER, Douglas L. Joaquim Mouzinho de Albuquerque (1855-1902) e a política do colonialismo,

Lisboa, Análise Social, v. 16, n. 61-62, p. 295-318, 1980.

Downloads

Publicado

2021-06-01

Como Citar

MENESES, . P. As estátuas também se abatem: momentos da descolonização em Moçambique. Cadernos NAUI, [S. l.], v. 10, n. 18, p. 108–130, 2021. Disponível em: https://ojs.sites.ufsc.br/index.php/naui/article/view/6488. Acesso em: 23 fev. 2025.

Edição

Seção

Dossiê Temático