Chamada 2024.2 (Vol. 13, n. 25) - Dossiê “Saberes Tradicionais e Paradigma Biocientífico: Alianças e Fricções”

2024-03-01

 

Resumo:

Este dossiê tem como objetivo explorar as relações entre modos de vida tradicionais, práticas e conhecimentos biocientíficos. Partimos da constatação de que os recentes avanços no reconhecimento e garantia dos direitos de povos e comunidades tradicionais no Brasil e na América Latina têm sido parcialmente eficazes em coibir o que alguns autores têm chamado de “injustiça epistêmica”. Isto é, observa-se a persistência de formas sistemáticas de desvalorização e desqualificação dos conhecimentos de grupos sociais minoritários e historicamente subalternizados. Especialmente no caso dos reconhecimentos patrimoniais, questionamos se a gramática da cultura, quando aplicada a saberes e práticas tradicionais, tem logrado garantir os direitos epistêmicos de seus detentores, sobretudo em campos da vida social hegemonizados pelo paradigma naturalista ocidental, como a saúde pública, a vigilância sanitária e a gestão do meio ambiente. Por outro lado, entendemos que alianças e diálogos bem-sucedidos entre conhecimentos tradicionais e biocientíficos tem produzido inúmeros benefícios mútuos, bem como alargado o horizonte de possibilidades e respostas aos desafios socioambientais e civilizacionais em curso. Neste sentido, convidamos pesquisadoras/es a submeterem contribuições que discutam a interação entre saberes tradicionais e paradigma biocientífico em três dimensões: 

(1) medicinas tradicionais, práticas de cuidado e cura e poder biomédico: como exemplo, esta dimensão inclui trabalhos sobre conflitos e/ou trocas de saberes envolvendo raizeiros, benzedeiras, parteiras, xamãs, etc. e o sistema oficial de saúde; experiências de reconhecimento, inventário, registro, patrimonialização e garantia de direitos intelectuais relativas às práticas tradicionais de cura e farmacopeias tradicionais; atravessamentos de classe, raça e gênero na interação entre sistemas tradicionais de saúde e sociedade envolvente; explorações turísticas e econômicas de saberes médicos tradicionais e controle comunitário; 

(2) biossegurança e patrimônio agroalimentar: como exemplo, esta dimensão inclui trabalhos sobre modos tradicionais de produção e consumo de alimentos, normatizações sanitárias, conflitos e colaborações; experiências de reconhecimento, inventário, registro e patrimonialização dos saberes agroalimentares e os desafios para sua salvaguarda; estratégias comunitárias de preservação de sementes crioulas e sua validação, apoio ou tensão com órgãos técnicos-científicos; o impacto de selos, certificações, indicações geográficas e outras estratégias de valorização de alimentos tradicionais e regionais; “microbiopolítica” e “culturas pós-pasteurianas” na produção de queijos, fermentados e outros alimentos vivos; patrimônio, soberania e segurança alimentares;

(3) povos tradicionais, patrimônio e justiça socioambiental: como exemplo, esta dimensão inclui trabalhos sobre conflitos e formas de coexistência entre unidades de conservação e povos tradicionais; experiências de reconhecimento, inventário, registro e patrimonialização de sistemas agrícolas tradicionais, etnoecologia e seu diálogo com as biociências; etnoconservação (ou semelhantes) e seu diálogo e tensão com as concepções naturalistas ocidentais de conservação; racismo ambiental, vulnerabilidade e resiliência de povos e comunidades tradicionais no Antropoceno; mudanças climáticas e colaborações entre ciências naturais e saberes tradicionais.

 

Convocatoria en español

Dossier Temático "Saberes Tradicionales y Paradigma Biocientífico: alianzas y fricciones"

Organizadores: Caetano Sordi (UFSC); Luciano Florit (FURB)

Este dossier tiene como objetivo explorar las relaciones entre modos de vida tradicionales, prácticas y conocimientos biocientíficos. Partimos de la constatación de que los recientes avances en el reconocimiento y garantía de los derechos de pueblos y comunidades tradicionales en Brasil y América Latina han sido parcialmente eficaces en cohibir lo que algunos autores han llamado "injusticia epistémica". Es decir, se observa la persistencia de formas sistemáticas de desvalorización y descalificación de los conocimientos de grupos sociales minoritarios e históricamente subalternizados. Especialmente en el caso de los reconocimientos patrimoniales, cuestionamos si la gramática de la cultura, cuando se aplica a saberes y prácticas tradicionales, ha logrado garantizar los derechos epistémicos de sus poseedores, especialmente en campos de la vida social hegemonizados por el paradigma naturalista occidental, como la salud pública, la vigilancia sanitaria y la gestión del medio ambiente. Por otro lado, entendemos que las alianzas y diálogos exitosos entre conocimientos tradicionales y biocientíficos han producido numerosos beneficios mutuos, así como han ampliado el horizonte de posibilidades y respuestas a los desafíos socioambientales y civilizacional en curso. En este sentido, invitamos investigadores/as a presentar contribuciones que discutan la interacción entre saberes tradicionales y el paradigma biocientífico en tres dimensiones:

(1) medicinas tradicionales, prácticas de cuidado y curación y poder biomédico: como ejemplo, esta dimensión incluye trabajos sobre conflictos y/o intercambios de saberes que involucran a raiceros, curanderos, parteras, chamanes, etc., y el sistema oficial de salud; experiencias de reconocimiento, inventario, registro, patrimonialización y garantía de derechos intelectuales relacionados con las prácticas tradicionales de curación y farmacopeas tradicionales; cruces de clase, raza y género en la interacción entre sistemas tradicionales de salud y la sociedad envolvente; exploraciones turísticas y económicas de saberes médicos tradicionales y control comunitario;

(2) bioseguridad y patrimonio agroalimentario: como ejemplo, esta dimensión incluye trabajos sobre modos tradicionales de producción y consumo de alimentos, normativas sanitarias, conflictos y colaboraciones; experiencias de reconocimiento, inventario, registro y patrimonialización de los saberes agroalimentarios y los desafíos para su salvaguarda; estrategias comunitarias de preservación de semillas criollas y su validación, apoyo o tensión con organismos técnicos-científicos; el impacto de sellos, certificaciones, indicaciones geográficas y otras estrategias de valorización de alimentos tradicionales y regionales; "microbiopolítica" y "culturas pospasteurianas" en la producción de quesos, fermentados y otros alimentos vivos; patrimonio, soberanía y seguridad alimentaria;

(3) pueblos tradicionales, patrimonio y justicia socioambiental: como ejemplo, esta dimensión incluye trabajos sobre conflictos y formas de coexistencia entre unidades de conservación y pueblos tradicionales; experiencias de reconocimiento, inventario, registro y patrimonialización de sistemas agrícolas tradicionales, etnoecología y su diálogo con las biociencias; etnoconservación (o similares) y su diálogo y tensión con las concepciones naturalistas occidentales de conservación; racismo ambiental, vulnerabilidad y resiliencia de pueblos y comunidades tradicionales en el Antropoceno; cambios climáticos y colaboraciones entre ciencias naturales y saberes tradicionales.