A Paisagem Sonora do zoológico e a biofonia do cativeiro.

Autores

Resumo

O zoológico é um espaço de conflito. Muito além da arena cartesiana homem/animal, as forças que para ele convergem e nele colidem provém de múltiplas dimensões que superam a descontinuidade do conceito de espécie e que demandam uma compreensão mais ampla sobre esse encontro. A paisagem sonora do zoo revela-se como sua mais pujante evidência, contando histórias emocionais marcadas pelo cativeiro. O que a incoerente mente humana separou e desconectou, a energia sonora pode conectar novamente. As grades da jaula não podem barrar os sons, e a rapidez com que uma espécie aprende o sinal de alarme da outra é notável. Na paisagem sonora, o contrário da entropia é a conexão: os seres que ali habitam sempre tendem a se relacionar, formando sistemas sonoros aptos a memorizar, a aprender e a responder sincronicamente. O zoológico transforma-se, então, em um espaço simpático – sun-páthos, todos aqueles que sofrem juntos.


Referências

BERGER, John. About looking. New York: Vintage, 1992.

BRYANT, Gregory A. Animal signals and emotion in music: coordinating affect across groups. Frontiers Psychoogyl, v.4, pp.1-13, dez.2013. Disponível em: <https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fpsyg.2013.00990/full?utm_source=newsletter&utm_medium=web&utm_campaign=Psychology-w6-2014>. Acesso em: 23 jun. 2021.

DERRIDA, Jacques. O animal que logo sou. 2. ed. Trad. Fábio Landa. São Paulo: Ed.Unesp, 2011.

FILIPPI, Piera. Emotional and interactional prosody across animal communication: a comparative approach to the emergence of language. Front. Psychol., v.28, Set.2016. Disponível em: <https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fpsyg.2016.01393/full>. Acesso em: 18 jul. 2021.

GONTIJO, Clovis S. Ressonâncias noturnas: do indizível ao inefável. São Paulo: Ed. Loyola, 2017.

JANKÉLÉVITCH, Wladimir. A música e o inefável. Trad. Clovis S.Gontijo. São Paulo: Perspectiva, 2018.

KOLBERT, Elizabeth. A sexta extinção: uma história não natural. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2015.

KRAUSE, Bernie. A grande orquestra da natureza: descobrindo as origens da música no mundo. Trad. Ivan W. Kuck. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.

LESTEL, Dominique. A animalidade, o humano e as “comunidades híbridas”. In: MACIEL, M. E (Org.). Pensar/escrever o animal: ensaios de zoopoética e biopolítica. Florianópolis: Editora da UFSC, 2011.

LEVINAS, Emmanuel. Entre nós: ensaios sobre a alteridade. 3. ed. Trad. Pergentino Stefano Pivatto et al. Petrópolis/RJ: Vozes, 2004.

__________. Totalidade e infinito. Trad. José Pinto Ribeiro. Lisboa: Edições 70, 1988.

MALLET, Marie-Louise. La musique em respect. Paris: Galilée, 2002.

MEDEIROS, Ana Paula S. Zoológicos: uma análise crítica acerca de seus papéis e sua eticidade. Niterói, RJ: Universidade Federal Fluminence. Programa de Pós-Graduação em Bioética, Ética Aplicada e Saúde Coletiva, 2018. Dissertação de Mestrado. Disponível em: <https://app.uff.br/riuff/bitstream/handle/1/9152/ANNA%20PAULA%20SIM%D5ES%20MEDEIROS%20DISSERTA%C7%C3O.pdf;jsessionid=52A2B27B8049BBB54180FD3E0139C90D?sequence=1>. Acesso em: 23 jun. 2021.

MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. Trad. Carlos A.R.Moura. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

PIERCE, Jessica; BEKOFF, Marc. A postzoo future: why welfare fails animals in zoos. Journal of Applied Animal Welfare Science, v. 21, sup.1, pp. 43-48, 2018. Disponível em: <https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/10888705.2018.1513838>. Acesso em: 23 nov. 2021.

RODRIGUES, Felipe V. Fisiologia da música: uma abordagem comparativa. Revista de Biologia, v. 2, pp.12-17, jun. 2008. Disponível em: <http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/artigos_teses/2011/biologia/artigos/3fisiologia_musica.pdf>. Acesso em: 28 jul. 2021.

SCHAEFFER, Pierre. Tratado de los objetos musicales. Trad. Araceli Cabezón de Diego. Madrid: Alianza Música, 1988.

SCHAFER, Raymond M. A afinação do mundo: uma exploração pioneira pela história passada e pelo atual estado do mais negligenciado aspecto do nosso ambiente: a paisagem sonora. Trad. Marisa T.Fonterrada. São Paulo: EdUNESP, 2001.

SILVEIRA, Flávio L.A.; SILVA, Matheus H.P. Dos galhos às grades: cotidiano e relações interespécies no “bosque”: reflexões sobre as interações face a face entre humanos e macacos-de-cheiro (Saimiri sciureus sciureus) na cidade (Belém-PA). Horizontes antropológicos, ano 23, n. 48, pp. 99-127, maio-ago. 2017. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/ha/a/KYhR9nqFngxtNdWMrFtZyZQ/abstract/?lang=pt>. Acesso em 28 jul. 2021.

SOGA, Masashi; GASTON, Kevin J. Extinction of experience: the loss of human-nature interactions. Frontiers Ecol. Environmental, v. 14, pp.94-101, 2016.

VERDUM, Roberto; VIEIRA, Lucimar F.S.; PIMENTEL, Maurício R. As múltiplas abordagens para o estudo da paisagem. Espaço Aberto, PPGG/UERJ, v. 6, n.1, pp.131-150, 2016. Disponível em: <https://revistas.ufrj.br/index.php/EspacoAberto/article/view/5240>. Acesso em: 12 ago. 2021.

VIGARS, K. Bigger than blackfish: lessons from captive orcas demonstrate a larger problem with animal welfare laws. Boston College Environmental Affairs Law Review, v. 44, n. 2, p. 491-524, 2017. Disponível em: <http://lawdigitalcommons.bc.edu/ealr/vol44/iss2/10>. Acesso em: 22 ago. 2021.

WAZA – Word Association of Zoos and Aquariums. Building a Future for Wildlife: the World Zoo and Aquarium Conservation Strategy. Berne, Switzerland: Waza Executive Office,2005. Disponível em: <https://www.waza.org/wp-content/uploads/2019/03/wzacs-en.pdf>. Acesso em: 22 ago. 2021.

Downloads

Publicado

2022-12-18

Edição

Seção

ARTIGOS ORIGINAIS