v. 2 n. 1 (2008)
A Revista experimental Santa Catarina em História a partir desta edição apresenta os artigos produzidos pelos alunos da Disciplina de História de Santa Catarina - UFSC reunidos em dossiês temáticos. Dessa forma abre um espaço que possibilita visualizar diversos enfoques sobre uma mesma temática. A organização em dossiês contém, além das reflexões sobre as temáticas em si, um olhar sobre nós mesmos pesquisadores: quais as questões que estamos considerando como importantes na pesquisa histórica? Uma prática da reflexividade que é característica da pesquisa histórica da atualidade.
Nesta edição foram agrupados textos que focalizam a “Modernidade e Modernização em Florianópolis”. A capital catarinense emerge sob diversos aspectos em todos os textos. Florianópolis aparece como palco de disputas pelo espaço urbano no texto de Senaide Wolfart sobre o trabalho informal de mulheres; no artigo de André Yamamoto sobre a construção e reconstrução do Mercado Público e também no texto de Pollyana Varela Serpa que enfoca as tentativas de modificações físicas da cidade no início do século XX, baseadas no ideal higiênico da modernidade. A elite da Florianópolis do início do século transparece no artigo de Gabrielli Zanca que nos mostra o caráter distintivo da prática esportiva do remo num momento de afirmação desse grupo. O discurso cientificista sobre as doenças e epidemias e as diversas tentativas de ordenamento urbano estão presentes nos textos de Andréia Balz, Priscila Carboneri de Sena, Mirian Alves do Nascimento e Bianca Neves Tavanielli. Fernanda Martins nos apresenta o discurso médico jurídico que incidia/de sobre o corpo das mulheres através da criminalização das práticas abortivas. Caroline Soares de Almeida discute a construção do bar e restaurante Miramar, como representante da transformação urbana dos anos 1920. Florianópolis aparece também no olhar do artista através do texto de Ana Paula Henrique que reflete sobre os temores de Franklin Cascaes relativos aos discursos da modernização das décadas de 1960-1970.
A necessidade e a crença na capacidade ordenadora do novo e do progresso da cidade moderna parecem ser o foco principal de desmonte desses artigos. Os termos modernidade e higienismo se encontram imbricados nesse momento de medicalização da sociedade brasileira que precisa europeizar-se e/ou civilizar-se. A modernização dos anos de 1960-1970 dar-se-á como um outro “novo”, desta vez calcada no desenvolvimento de uma tecnocracia do período militar, mas a recusa de Cascaes, na exposição de Ana Paul Henrique, de uma ordem modernizadora se repete. A relação estabelecida com o passado nos discursos da modernidade é o da necessidade da ruptura. Um sentido da temporalidade que se volta para um futuro negando o passado. Boa leitura.
Além da organização em dossiês, a equipe editorial lança também mais uma possibilidade de colaboração com a revista Santa Catarina em História através da produção de entrevistas que poderão ser feitas através de dois enfoques. Entrevistas que busquem abranger questões teórico-metodológicas pertinentes a área das Ciências Humanas tomando por entrevistados pessoas com reconhecido valor acadêmico na área de atuação. Entrevistas que privilegiem aspectos histórico-culturais da região de Santa Catarina, através de relatos dos “anônimos da história” não somente sobre acontecimentos do passado, mas também acerca das diversas práticas cotidianas onde se encontram imbricadas diversas temporalidades.
A equipe editorial agradece a colaboração das autoras e autores e deseja aos leitores e leitoras que esses textos aproximem a todos das diversas “Florianópolis” presentes nos artigos sem deixar de inserir a atual cidade nessa trama histórica discursiva através do qual que tateamos o mundo.
Rosemeri Moreira
Publicado:
2009-09-16