Anjo da Manhã: Reflexões sobre Sexismo Estrutural a partir da Análise do Filme Bela Vingança

Autores

  • Jaqueline Bragatti de Oliveira Universidade Federal de Santa Catarina

Resumo

Este artigo tem como objetivo refletir sobre a complexidade em que se dão as violências de gênero no contexto contemporâneo pela análise do filme Promising Young Woman/Bela Vingança. Se procede a observar e analisar cenas em que é possível identificar a cumplicidade e a complacência à masculinidade hegemônica que, juntas, contribuem para criar um cenário opressor para a mulher e impune para o homem; relacionar o ambiente hostil à mulher com a violência de gênero e sua escalação para formas mais extremas; analisar como a subversão pode produzir mais opressão e violência pelas contrarreações, mas também aparece como um caminho possível para a conscientização e a mudança. Como resultado, observou-se umpanorama do ambiente hostil criado pelo sexismo, que invisibiliza, deslegitima e violenta todas as mulheres em nome de ganhos de poder para os homens, e faz parte das estruturas fundantes da sociedade, como as instituições e a cultura. Através de um crescente que se inicia por atos aparentemente banais e sem importância, a análise do filme demonstra que, para alcançar seus contornos mais trágicos, o estupro e o feminicídio, a violência de gênero passa por um grande continuum de atitudes, que levam à impunidade de agressores a ao silenciamento das vítimas, além de trazer impactos psíquicos profundos a todos os envolvidos nesses atos de violência, especialmente aqueles na condição de oprimidos.

Palavras-chave: sexismo; violência de gênero; estupro; masculinidades; filme.

Biografia do Autor

Jaqueline Bragatti de Oliveira, Universidade Federal de Santa Catarina

Departamento de Psicologia

Referências

Alves, S. (2020, Novembro 3). Julgamento de influencer Mariana Ferrer termina com tese inédita de 'estupro culposo' e advogado humilhando jovem. The Intercept Brasil. https://theintercept.com/2020/11/03/influencer-mariana-ferrer-estupro-culposo/

Barnett, P. E. (2004). Dangerous Desire: Literature of Sexual Freedom and Sexual Violence since the Sixties. Routledge.

Bittencourt, N. A. (2015). Movimentos Feministas. Revista InSURgência, 1(1), 198-210. https://doi.org/10.26512/insurgncia.v1i1.18804

Borges, L. S. (2014). Feminismos, Teoria Queer e Psicologia Social Crítica: (re)contando histórias… Psicologia e Sociedade, 26(2), 280-289. https://doi.org/10.1590/S0102-71822014000200005

Bower, T. (2019, Set-Out) The #MeToo Backlash. Harvard Business Review. https://hbr.org/2019/09/the-metoo-backlash

Butler, J. (2014). Regulações de Gênero. Cadernos Pagu, 42, 249-274. http://dx.doi.org/10.1590/0104-8333201400420249

Butler, J. (2019). Corpos que importam: Os limites discursivos do “sexo”. n-1 edições.

Carlsen, A.; Salam, M.; Miller, C. C.; Lu, D.; Ngu, A.; Patel, J. K.; & Wichter, Z. (2018, Out 29). #MeToo Brought Down 201 Powerful Men. Nearly Half of Their Replacements Are Women. The New York Times. https://www.nytimes.com/interactive/2018/10/23/us/metoo-replacements.html

Connel, R. W.; Messerschmidt, J. W. (2013). Masculinidade hegemônica: repensando o conceito. Estudos Feministas, 21(1), 241-282.

Council of Europe. (2011). Council of Europe Convention on preventing and combating violence against women and domestic violence. Council of Europe Treaty Series No 210. https://rm.coe.int/CoERMPublicCommonSearchServices/DisplayDCTMContent?documentId=090000168008482e

Cuklanz, L. M. (2000). Rape on prime time: television, masculinity, and sexual violence. University of Pennsylvania Press.

Denike, M. A. (2002). Myths of Woman and the Rights of Man: The Politics of Credibility in Canadian Rape Law. In: Hodgson; J. F.; & Kelley, D. S. (edit.). Sexual violence: policies, practices, and challenges in the United States and Canada. Praeger Publishers, pp. 101-118.

Fassihi, F. (2020, Out 22). A #MeToo Awakening Stirs in Iran. The New York Times. https://www.nytimes.com/2020/10/22/world/middleeast/iran-metoo-aydin-aghdashloo.html

Federici, S. (2017). Calibã e a bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva. Elefante.

Feller, M. (2018, Ago 28). These High-Profile Men Were Brought Down By #MeToo. Now They're Plotting Their Comebacks. Elle. https://www.elle.com/culture/career-politics/a20710282/men-planning-me-too-comebacks-harvey-weinstein/

Gago, V. (2020). A potência feminista, ou o desejo de transformar tudo. Elefante.

Gil, A. C. (2008). Métodos e técnicas de pesquisa social, 6a ed. Atlas.

Graciano, A. R.; Almeida, R. I.; & Carneiro, L. Z. (2017). Violência sexual como um desafio à saúde pública: perfil epidemiológico. Revista Educação em Saúde, 5(2), 66-71.

Grosfoguel, R. (2016). A estrutura do conhecimento nas universidades ocidentalizadas: racismo/sexismo epistêmico e os quatro genocídios/epistemicídios do loingo século XVI. Revista Sociedade e Estado, 31(1), 25-49. https://doi.org/10.1590/S0102-69922016000100003

Harris, E. A. (2019, Jan 28). Terry Crews and Other Sexual Violence Survivors Narrate New 'Me Too' Videos. The New York Times. https://www.nytimes.com/2019/01/28/arts/terry-crews-me-too-videos.html

Howard, L. G. (2007). The Sexual Harassment Handbook: Everything You Need To Know Before Someone Calls a Lawyer. The Career Press.

Kantor, J.; & Sundaram, A. (2021, Ago 7). How Cuomo Took Advantage of #MeToo. The New York Times. https://www.nytimes.com/2021/08/07/nyregion/andrew-cuomo-metoo.html

Kaya, S. (2019). Gender and violence: Rape as a spectacle on prime-time television. Social Science Information, 58(4), 681-700. https://doi-org.ez67.periodicos.capes.gov.br/10.1177/0539018419883831

Kottasová, I. (2019, Dez 29). While the #MeToo backlash raged on in 2019, the movement notched up big gains. CNN. https://edition.cnn.com/2019/12/24/world/metoo-movement-gains-2019-intl/index.html

Lord, V. B.; & Rassel, G. (2002). Law Enforcement's Response to Sexual Assault: A Comparative Study of Nine Counties in North Carolina. In: Hodgson; J. F.; & Kelley, D. S. (edit.). Sexual violence: policies, practices, and challenges in the United States and Canada. Praeger Publishers, pp. 155-172.

Miskolci, R. (2018). Exorcizando um fantasma: os interesses por trás do combate à “ideologia de gênero”. Cadernos Pagu, (53), e185302. https://doi.org/10.1590/18094449201800530002

Nenoff, A. (2020). #MeToo: A Look At The Influence and Limits of "Hashtag Activism" to Effectuate Legal Change. University of Illinois Law Review, 2020(4), 1327-1360. https://www.illinoislawreview.org/wp-content/uploads/2020/08/Nenoff.pdf

Newton, J. (Intérprete); Taylor, C. (Compositor); & Verdick, M. (Músico). (2020). Angel of the Morning [Canção]. In: Promising Young Woman Official Soundtrack, Capitol Records.

Nkosi, D. F. (2014). O pênis sem o falo: algumas reflexões sobre homens negros, masculinidades e racismo. In: Blay, E. A. (org.). Feminismos e masculinidades: novos caminhos para enfrentar a violência contra a mulher. Cultura Acadêmica.

Ossola, A.; Shendruk, A. (2019, Abr 08). From apologies to denials, a guide to the complex world of post-Me Too comebacks. Quartz. https://qz.com/1586047/the-various-ways-men-stage-comebacks-after-me-too-allegations/

Padiglione, C. (2020, Dez 05). Por que a Globo deu tratamentos tão distintos aos casos de Melhem e José Mayer? Folha de São Paulo. https://telepadi.folha.uol.com.br/por-que-a-globo-tratou-o-caso-melhem-de-modo-tao-diferente-do-de-jose-mayer/

Preciado, P. B. (2014). Manifesto contrassexual: Práticas subversivas de identidade sexual, 2ª ed. n-1 edições.

Preciado, P. B. (2020). PORNOTOPIA: PLAYBOY e a invenção da sexualidade multimídia. n-1 edições.

Quijano, A. (2005). Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In: Lander, E. A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais: Perspectivas latino-americanas. Colección Sur Sur, CLACSO, 107-130. https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/2591382/mod_resource/content/1/colonialidade_do_saber_eurocentrismo_ciencias_sociais.pdf

Ransom, J. (2021, Jul 18). 'Nobody Believed Me': How Rape Cases Get Dropped. The New York Times. https://www.nytimes.com/2021/07/18/nyregion/manhattan-da-rape-cases-dropped.html

Ribeiro, D. (2019). Pequeno manual antirracista. Companhia das Letras.

Robbie, M. et al. (Produtores), & Fennell, E. (Diretora). (2020). Bela Vingança [Filme]. Estados Unidos: Universal Pictures.

Rummler, O. (2020, Out 27). Global #MeToo movement has resulted in 7 convictions, 5 charges of influential figures. Axios. https://www.axios.com/global-metoo-movement-convictions-charges-382ff226-7ad3-4b26-ac89-451788192578.html

Sabien, S. (2002). Reading rape: the rhetoric of sexual violence in American literature and culture, 1799-1990. Princeton University Press.

Saguy, A. C. (2003). What is sexual harassment?: from Capitol Hill to the Sorbonne. University of California Press.

Sanches, M. (2020, Jul 25). O que é a 'cultura de cancelamento'. BBC News Brasil. https://www.bbc.com/portuguese/geral-53537542

Scott, J. (1995). Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação & Realidade, 20(2), 71-99.

Silva, L. E. L.; & Oliveira, M. L. C. (2015). Violência contra a mulher: revisão sistemática da produção científica nacional no período de 2009 a 2013. Cienc. saúde colet., 20(11), 3523-2532. https://doi.org/10.1590/1413-812320152011.11302014

Sottomayor, M. C. (2015). A Convenção de Istambul e o Novo Paradigma da Violência de Género. Ex aequo, 31, 105-121. https://doi.org/10.22355/exaequo.2015.31.08

Tribune Collectif. (2018, Jan 09) "Nous défendons une liberté d'importuner, indispensable à la liberté sexuelle". Le Monde. https://www.lemonde.fr/idees/article/2018/01/09/nous-defendons-une-liberte-d-importuner-indispensable-a-la-liberte-sexuelle_5239134_3232.html

Twohey, M.; & Kantor, J. (2020, Fev 24). With Weinstein Conviction, Jury Delivers a Verdict on #MeToo. The New York Times. https://www.nytimes.com/2020/02/24/us/harvey-weinstein-verdict-metoo.html

Venceslau, I. (2021, Abr 22). Surpreendente cartografia dos estupros no Brasil. Outras Palavras. https://outraspalavras.net/crise-brasileira/surpreendente-cartografia-dos-estupros-no-brasil/

Venturoza, I. (2018). Masculinidade Tóxica - O que há para além dela? Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde. https://www.mulheres.org.br/masculinidade-toxica-o-que-ha-para-alem-dela/

Vergès, F. (2020). Um feminismo decolonial. Ubu Editora.

Weise, W. S. (2007). Gender, Genre, and the Eroticization of Violence in Early Modern English Literature. [Tese de doutorado]. The University of Arizona. http://hdl.handle.net/10150/195129

Downloads

Publicado

2021-11-03