PLÁGIO OU PARÓDIA NA LITERATURA: UMA REFLEXÃO SOBRE O DIÁLOGO ENTRE ATONEMENT, DE IAN McEWAN E NO TIME FOR ROMANCE, DE LUCILLA ANDREWS
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Buscando compreender a natureza ontológica da literatura e sua relação com outros discursos, no caso específico, o discurso histórico, analisaremos o emprego de fontes históricas no diálogo entre o romance Atonement, de Ian McEwan e o romance No Time forAbstract
Buscando compreender a natureza ontológica da literatura e sua relação com outros discursos, no caso específico, o discurso histórico, analisaremos o emprego de fontes históricas no diálogo entre o romance Atonement, de Ian McEwan e o romance No Time for Romance, de Lucilla Andrews. Fruto de uma celeuma amplamente divulgada na imprensa internacional, o debate sobre o plágio na literatura concernente às obras citadas mostra-se relevante para a compreensão da interdiscursividade em narrativas metaficcionais contemporâneas. Para alcançar nosso objetivo, tomaremos como suporte teórico os postulados de Linda Hutcheon, Patricia Waugh e Gustavo Bernardo. A passagem de Atonement a ser analisada encontra-se na Parte III do romance, precisamente na seção que descreve a chegada dos sobreviventes de Dunkirk e o colossal trabalho das enfermeiras e do corpo médico na tentativa de salvar as vidas. A julgar pela reelaboração criativa do empréstimo, explícita em Atonement, e pela Nota de Agradecimento no final do romance, onde a fonte inspiradora é citada, a intenção de McEwan é certamente paródica, onde o intento é imitar com ironia crítica (HUTCHEON, 1985, p. 57), o que diverge do plágio, cujo intento é enganar. Como o uso de fontes históricas na literatura tem implicações éticas e ideológicas, observamos que, através da metaficção, Atonement parodia a história oficial, desmistificando o conceito de “êxodo heroico” conferido à Retirada de Dunkirk. De fato, em Atonement, a história encontra-se, indubitavelmente, à serviço da literatura.References
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