Uma análise ricoeuriana da construção narrativa de identidade a partir do estudo biopolitico de Esposito sobre o nazismo
Palavras-chave:
Paul Ricœur, Roberto Esposito, Identidade narrativa, Biopolítica, NazismoResumo
O objetivo deste artigo é averiguar se a teoria da identidade narrativa de Paul Ricœur é capaz de explicar as identidades formadas pelo discurso biomédico redutivista do nazismo, segundo os estudos de Roberto Esposito sobre o enigma da biopolítica no caso da Alemanha nazista. Neste sentido, o estudo é dividido em três partes, uma de apresentação das considerações de Esposito sobre a tanatopolítica nazista, outra de elucidação da teoria da identidade narrativa de Ricœur e uma última parte de convergência entre as duas. O foco do primeiro tópico é de apresentar o enigma da biopolítica – isto é, por que uma política voltada para a promoção da vida acaba resultando em morte? – e a interpretação biopolítica de Esposito sobre o nazismo, o maior exemplo histórico de biopolítica que se converte em tanatopolítica; desta interpretação se segue a observação do conjunto simbólico do ideário nazista, que preza por um redutivismo das dimensões políticas, históricas e sociais a uma visão biológica e médica. O segundo tópico versa sobre dois dos três paradoxos da identidade apresentados por Ricœur em conferência (1995), que tratam do problema temporal da identidade pessoal e do problema da constituição intersubjetiva do ‘eu’. A resolução dos paradoxos se dá pela narratividade, que desemboca nas considerações sobre a identidade narrativa. O terceiro tópico posiciona as lentes ricœurianas para a análise do ideário redutivista biomédico do nazismo, segundo o que fora apresentado do estudo de Esposito. Por esse caminho, foi possível concluir que o processo de geração de identidades pelo ideário nazista é passível de compreensão pela teoria da identidade narrativa, no que se refere à hermenêutica do si e do outro e a importância da mediação narrativa como condição para construção de toda e qualquer identidade pessoal.
Referências
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