Sobre a pertinência do feminismo para a investigação filosófica
respostas a Susan Haack
Palavras-chave:
filosofia feminista, mulheres na filosofia, história da filosofia, cânoneResumo
O objetivo deste artigo é apresentar as críticas de Susan Haack à filosofia feminista e algumas respostas a essas críticas, incluindo a minha. Para tanto, primeiro ofereço um panorama da filosofia de Haack seguido de um recorte: analiso seus posicionamentos específicos com relação à epistemologia feminista e exponho as principais reações a tais posicionamentos. Em um segundo momento, ofereço uma resposta alternativa a Haack desde o ponto de vista da história feminista da filosofia. Ao focar especialmente na recuperação e possibilidade de canonização das mulheres filósofas, defendo que a investigação em história da filosofia, tal como engendrada pelo feminismo, tem como resultado o oposto do que Haack suspeita: trata-se de em uma investigação que preza pela verdade, democrática, honesta, e não se reduz à promoção parcial de interesses e justiça social. A redescoberta de obras de mulheres ao longo da história da filosofia e a subsequente possibilidade de sua inclusão no cânone proporcionam um conhecimento mais fidedigno da própria história da disciplina – o que atesta a pertinência da empreitada em si mesma, bem como de sua participação no rol das respostas a Haack. O artigo conclui com a apresentação de alguns casos de filósofas em processo de recuperação e canonização.
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