A encarnação é um fato ou um mito?
Um debate sobre a cristologia das duas mentes
Palavras-chave:
Teologia Filosófica, Encarnação, Filosofia CristãResumo
Central ao cristianismo é a crença de que Jesus é verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, uma única pessoa possuindo as naturezas divina e humana. A familiaridade do assunto pode, prima facie, esconder complexidades filosóficas e teológicas anexas à ideia de um Deus-Homem. Um pouco de reflexão, contudo, é suficiente para percebermos que o tema é intricado, como mostram os séculos de controvérsias sobre o assunto. Uma nova onda de debates sobre a encarnação surge na contemporaneidade a partir da obra The Mith of God Incarnate (HICK, 1977). De forma ampla, é possível dizer que as posições deste debate se dividem entre os defensores de uma interpretação revisionista, mítico/metafórica da encarnação, e aqueles que pretendem manter a interpretação calcedoniana tradicional. O presente artigo tratará justamente de um debate entre defensores destas duas posições. Mais especificamente, abordará as críticas de John Hick à, assim chamada, teoria das duas mentes de Thomas V. Morris. Inicialmente explicaremos o dogma da encarnação de forma mais clara, o escopo das discussões contemporâneas sobre ele e qual o principal problema filosófico ligado à doutrina. Depois, reconstruiremos a teoria (em tese) ortodoxa de Morris, cujo ponto central é a afirmação de que a encarnação deve ser compreendida como a efetivação de uma pessoa com duas mentes: uma humana e uma divina. Por fim, analisaremos as críticas de Hick a Morris. O fato de, neste artigo, darmos a última palavra a Hick, não significa que o debate esteja encerrado. Existem várias réplicas que nos motivam a uma pesquisa futura.
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