O impacto da teoria genética sobre a filosofia biológica de Georges Canguilhem
Palavras-chave:
Canguilhem, epistemologia histórica, genética, conhecimento da vida.Resumo
Em meados da década de 1960, um acontecimento no campo das ciências biológicas virá afetar seu pensamento decisivamente. Trata-se do desenvolvimento da teoria genética, que se tornou possível a partir da descoberta, em 1953, da estrutura hereditária do DNA. Canguilhem só tomará conhecimento um pouco tardiamente do real impacto dessa descoberta, a partir da leitura das obras de J. Monod e Fr. Jacob. Tão grande será o choque desta descoberta que Canguilhem a designará como uma ruptura epistemológica nas ciências da vida, em atenção à qual ele terá de reformular sua filosofia biológica propondo uma retificação ao seu conceito de vida. Não obstante, a revolução genética acabou por permitir que seu vitalismo racionalista pudesse reformular as relações entre conceito e vida com um rigor ainda maior. Pois, uma vez que a genética pôde enfim se formalizar e adquirir o estatuto epistemológico de ciência, tornou-se possível avaliar, a partir do ponto de vista dessa teoria agora sancionada, todas as teorias biológicas do passado. E ao reconhecer o caráter revolucionário dessa nova teoria biológica, Canguilhem aproximou-se ainda mais da epistemologia bachelardiana, utilizando-se do conceito de recorrência para reformular o que ele mesmo havia até então escrito e pensado sobre o conhecimento da vida.
Referências
CANGUILHEM, Georges [1946] “Aspects du vitalisme”. IN: La connaissance de la vie. 2ª ed. Paris: Vrin, 2009, p. 83-100.
______ [1952] “Réflexions sur la création artistique selon Alain”: IN: Œuvres Complètes, vol. IV: résistance, philosophie biologique et histoire des sciences (1940-1965). Paris: Vrin, 2015, p. 415-435.
______. [1955] “Le problème des régulations dans l´organisme et dans la société”. IN: Œuvres Complètes, vol. V: histoire des sciences, épistémologie, commémorations (1966-1995). Paris: Vrin, 2018, p. 643-672.
______. [1966a] “Le tout et la partie dans la pensée biologique” IN: Études d´histoire et de philosophie des sciences concernant les vivants et la vie. 7ª ed. Paris: Vrin, 2002, p. 319-333.
______. [1966b] “Le concept et la vie”. IN: Études d´histoire et de philosophie des sciences concernant les vivants et la vie. 7ª ed. Paris: Vrin, 2002, p. 335-364.
______. [1966c] “Un nouveau concept en pathologie: l´erreur”. IN: Le normal et le pathologique. 5ª ed. Paris: PUF, 1984, p. 207-217.
______. [1966d] “Vingt ans après…”. IN: Le normal et le pathologique. 5ª ed. Paris: PUF, 1984, p. 171-173.
______. [1966e] “Du social au vital”. IN: Le normal et le pathologique. 5ª ed. Paris: PUF, 1984, p. 175-191.
______. [1968] “Biologie et philosophie: publications européennes”. IN: Œuvres Complètes, vol. V: histoire des sciences, épistémologie, commémorations (1966-1995). Paris: Vrin, 2018, p. 315-328.
______. [1971] “Logique du vivant et histoire de la biologie”. IN: Œuvres Complètes, vol. V: histoire des sciences, épistémologie, commémorations (1966-1995). Paris: Vrin, 2018, p. 418-433.
______. [1972a] “Régulation (épistémologie)”. IN: Œuvres Complètes, vol. V: histoire des sciences, épistémologie, commémorations (1966-1995). Paris: Vrin, 2018, p. 541-553.
______. [1972b] “Vie”. IN: Œuvres Complètes, vol. V: histoire des sciences, épistémologie, commémorations (1966-1995). Paris: Vrin, 2018, p. 573-606.
______ [1974a] “La formation du concept de régulation biologique aux XVIIIe et XIXe siècles”. IN: Idéologie et rationalité dans l´histoire des sciences de la vie. Paris: Vrin, 1977, p. 81-99.
______. [1974b] “La question de l´écologie”. IN: Œuvres Complètes, vol. V: histoire des sciences, épistémologie, commémorations (1966-1995). Paris: Vrin, 2018, p. 631-645.
______ [1976] “Nature dénaturée et nature naturante”. IN: Œuvres Complètes, vol. V: histoire des sciences, épistémologie, commémorations (1966-1995). Paris: Vrin, 2018, p. 695-713.
______. [1984] “Entretien avec Georges Canguilhem”. IN: Œuvres Complètes, vol. V: histoire des sciences, épistémologie, commémorations (1966-1995). Paris: Vrin, 2018, p. 999-1012.
______. [1987a] “Discours de réception de la médaille d´or du CNRS”. IN: Œuvres Complètes, vol. V: histoire des sciences, épistémologie, commémorations (1966-1995). Paris: Vrin, 2018, p. 1101-1115.
______. [1987b] “La décadence de l´idée du progrès”. IN: Œuvres Complètes, vol. V: histoire des sciences, épistémologie, commémorations (1966-1995). Paris: Vrin, 2018, p. 1069-1093.
______. [1995] “Entretien de Georges Canguilhem [avec François Bing et Jean-François Braunstein]”. IN: Œuvres Complètes, vol. V: histoire des sciences, épistémologie, commémorations (1966-1995). Paris: Vrin, 2018, p. 1281-1301.
FOUCAULT, Michel [1970] “Croître et multiplier”. IN: Dits et écrits I: 1954-1974. 2ª ed. Paris: Gallimard, 2001.
JACOB, François [1970] La logique du vivant. Paris: Gallimard, 1970.
LE BLANC, Guillaume [2002] La vie humaine: anthropologie et biologie chez Georges Canguilhem. Paris: PUF, 2002.
LÉVI-STRAUSS, Claude [1955] Tristes trópicos. Tradução Rosa Freire D´Aguiar. São Paulo: Cia. das Letras, 1996.
LIMOGES, Camille [2018] “Introduction”. IN: CANGUILHEM, Georges [2018] Œuvres Complètes, vol. V: histoire des sciences, épistémologie, commémorations (1966-1995). Paris: Vrin, 2018, p. 48-49.
LWOFF, André [1962] Biological order. Boston: MIT Press, 1962.
MAYR, Ernst [2004] Biologia, ciência única: reflexões sobre a autonomia de uma disciplina científica. Tradução Marcelo Leite. São Paulo: Cia. das Letras, 2005.
MONOD, Jacques [1970] Le hasard et la nécessité: essai sur la philosophie naturelle de la biologie moderne. Paris: Seul, 1970.
SIMONDON, Gilbert [1964] L´individuation à la lumière des notions de forme et d´information. Grenoble: Jérôme Millon, 2005.
WORMS, Frédéric [2008] “Le concept du vivant comme philosophie première: de Canguilhem à aujourd´hui”. IN: FAGOT-LARGEAULT, Anne; DEBRU, Claude; MORANGE, Michel (dir.), HAN, Hee-Jin (éd.) Philosophie et médecine: en hommage à Georges Canguilhem. Paris: Vrin, 2008, p. 139-151.
______. [2011] “La vie dans la philosophie du XXe siècle en France”. IN: Philosophie, n. 109. Paris: Minuit, 2011, p. 74-91.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
- Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Creative Commons Attribution License que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria do trabalho e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).