O Brasil dos famintos em pleno século XXI: evidências de uma tragédia contínua
Resumo
Nos últimos anos os países adotaram diferentes formas de combater a
pandemia da Covid-19, na tentativa de minimizar suas consequências sanitárias,
econômicas e sociais. O Brasil foi especialmente afetado, sendo o terceiro país no
mundo com o maior número de pessoas infectadas e o segundo com o maior número de
mortes pelo Coronavirus, não apenas devido à sua gravidade, mas particularmente às
decisões governamentais desastrosas. Em junho de 2022 a Rede de Pesquisa em
Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan) publicou o II Inquérito
Vigisan, indicando que 125,2 milhões de pessoas estavam sujeitas a algum grau de
insegurança alimentar, das quais 33,1 milhões estavam passando fome, número 74,2%
superior ao registrado no I Vigisan, em 2020. A partir dos dois Inquéritos Vigisan e
revisão bibliográfica, o objetivo deste artigo é discutir as manifestações da insegurança
alimentar no contexto da pandemia da Covid-19, sem que esta seja considerada causa da
tragédia alimentar que afeta mais da metade da população brasileira. O agravamento da
fome no país, que resgata um passado inglório visto na década de 1990, está também
diretamente associado ao desmonte orquestrado de instituições, a exemplo do Sistema
Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN) e do Conselho Nacional de
Segurança Alimentar (CONSEA), e de políticas públicas, em obediência à agenda
neoliberal de fragilização do Estado através de uma disciplina fiscal que tem restringido
o atendimento às necessidades de uma crescente população vulnerável.
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