De(s)colonizando a Cooperação Sul-Sul: um marco analítico fundado no pós-desenvolvimento e no comum

Autores

Resumo

Com o objetivo de repensar a Cooperação Sul-Sul como uma oportunidade para promover uma ordem mundial mais igualitária e justa, esta discussão se concentra nas contribuições latino-americanas para o pós-desenvolvimento e noções comuns que nos permitem problematizar os conceitos de desenvolvimento e cooperação internacional. Partimos do pressuposto de que a região apresenta algumas contribuições importantes em termos teórico-epistemológicos, além de experiências prático-ontológicas de relevância para a cooperação solidária, como Quilombismo, Bem Viver, Projetos de Vida, Zapatismo, com as quais podemos aprender e propor uma cooperação para o desenvolvimento diferente e inovadora. Assim, o quadro analítico alternativo proposto baseia-se em três categorias que oferecem alguns critérios de avaliação das iniciativas: a solidariedade, como princípio que deve nortear a prática da cooperação ('colocação em comum'); horizontalidade, como meio de ação que permite a participação de todos os atores ('decidir sobre bens comuns em comum'); e bem-estar social, como objetivo para alcançar a cooperação prática (“agir em comum”). Essa discussão sugere que, além da agenda global de desenvolvimento e dos mecanismos de cooperação internacional, o Sul global pode oferecer às práticas de cooperação perspectivas plurais e alternativas ao desenvolvimento.

Biografia do Autor

Marina Bolfarine Caixeta, Universidade de Brasília

Doutora em Ciências Sociais pelo Departamento dos Estudos Latino-Americanos da Universidade de Brasília (UnB), com bolsa de pesquisa do CNPq (2017-2021). Pesquisadora do Centro de Estudos e Articulação da Cooperação Sul-Sul (ASUL) e dos Grupos de Pesquisa Descolonizando as Relações Internacionais da UNILA e Feminismo e Relações Internacionais da Universidade de Buenos Aires. Bacharel e profissional de Relações Internacionais com experiência no governo brasileiro (Ministério da Saúde) e no sistema ONU no Brasil (UNODC) com gestão de projetos de CSS e com avaliação da CSS. Artigos e trabalhos publicados anteriormente podem ser acessados em http://lattes.cnpq.br/2521803239016390

Maria do Carmo Rebouças da Cruz Ferreira dos Santos, Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB)

Professora da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB). Doutora em Desenvolvimento, Sociedade e Cooperação Internacional pela Universidade de Brasília. Pesquisadora e membro do Conselho Gestor do Centro de Estudos e Articulação da Cooperação Sul-Sul. Investigadora Associada do Instituto Nacional de Estudos e Investigação da Guiné-Bissau. Membro da Associação de Estudos Latino-Americanos (LASA). Autora do livro “Guiné-Bissau: da independência colonial à dependência da cooperação internacional para o desenvolvimento” (2019). Artigos e trabalhos publicados anteriormente podem ser acessados em http://lattes.cnpq.br/3610248932250458

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2022-06-02

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Artigos