A (RE)LEITURA DA SAGA DAS “FILHAS DO REI” EM BRIDE OF NEW FRANCE (2011), DE SUZANNE DESROCHERS
Palavras-chave:
Romance Histórico Contemporâneo de Mediação, Literatura Canadense, Bride of New France (2013), Suzanne Desrochers.Resumo
Ao analisar o romance Bride of New France ([2011] 2013), da canadense Suzanne Desrochers, objetivamos mostrar como se deu a inserção da mulher branca europeia na Nova França, o atual Canadá, durante o século XVII, pelo viés da ficção. As jovens, destinadas a essa terra recém-descoberta, foram nomeadas como “filhas do Rei” e tinham a tarefa de casar com colonizadores brancos, bem como deles gerar filhos. Nesse fato histórico se apóia a ficção de Desrochers. De acordo com Zug (2016), a presença feminina serviria como incentivo para que os desbravadores não retornassem a sua terra natal e, ademais, povoassem o local recém-anexado à coroa francesa. A narrativa híbrida, que mescla história e ficção, apresenta a chegada a nova terra, o casamento e o processo de adaptação das personagens que representam as “filhas do Rei”. Trata-se de uma obra romanesca que não corrobora com a versão historiográfica apresentada pelos disseminadores do discurso falocêntrico, mas que relê, criticamente, o processo de inserção das mulheres no Canadá, por meio da ficção, possibilitando a expressão da voz feminina antes excluída da escrita hegemônica do passado. Dessa maneira, diferentes perspectivas desse passado são desveladas e a história “vista de cima” cede espaço para aquela “vista de baixo”, isto é, a perspectiva feminina desse processo. Assim, a ficção desconstrói a versão oficial do passado. Esta pesquisa, de cunho bibliográfico, tem como arcabouço teórico, entre outros, os pressupostos de Sharpe (1992), Runyan (2010), Fleck (2007; 2011), e Zug (2016).
Referências
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