De(s)colonizando a Cooperação Sul-Sul: um marco analítico fundado no pós-desenvolvimento e no comum
Resumo
Com o objetivo de repensar a Cooperação Sul-Sul como uma oportunidade para promover uma ordem mundial mais igualitária e justa, esta discussão se concentra nas contribuições latino-americanas para o pós-desenvolvimento e noções comuns que nos permitem problematizar os conceitos de desenvolvimento e cooperação internacional. Partimos do pressuposto de que a região apresenta algumas contribuições importantes em termos teórico-epistemológicos, além de experiências prático-ontológicas de relevância para a cooperação solidária, como Quilombismo, Bem Viver, Projetos de Vida, Zapatismo, com as quais podemos aprender e propor uma cooperação para o desenvolvimento diferente e inovadora. Assim, o quadro analítico alternativo proposto baseia-se em três categorias que oferecem alguns critérios de avaliação das iniciativas: a solidariedade, como princípio que deve nortear a prática da cooperação ('colocação em comum'); horizontalidade, como meio de ação que permite a participação de todos os atores ('decidir sobre bens comuns em comum'); e bem-estar social, como objetivo para alcançar a cooperação prática (“agir em comum”). Essa discussão sugere que, além da agenda global de desenvolvimento e dos mecanismos de cooperação internacional, o Sul global pode oferecer às práticas de cooperação perspectivas plurais e alternativas ao desenvolvimento.
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