Burguesia dependente e as bases de construção da hegemonia no Brasil

Autores

  • Isabela Ramos Ribeiro Universidade de Brasília (UnB)

Resumo

O presente artigo busca discutir como a burguesia dependente brasileira constrói sua hegemonia a partir de sua organização no âmbito da sociedade civil. Persegue-se, então, o objetivo de verificar como as demandas das frações burguesas se expressam em alterações nas políticas econômicas e sociais. Para isso, foi realizada pesquisa bibliográfica e documental, com análise dos documentos das entidades da classe burguesa que representam suas frações industrial (CNI), agrária (CNA), comercial (CNC) e bancário-financeira (Febraban). A pesquisa evidenciou os limites do projeto de conciliação de classes baseado no momento econômico internacional favorável, com seu respectivo esgotamento, e a forma de atuação da burguesia dependente no contexto de crise que culminou no golpe sobre o governo Dilma. Foi possível demonstrar os enlaces da política econômica com o pacto de classes do Plano Real, bem como o papel das políticas sociais na retomada da acumulação e na recomposição da hegemonia, com a consequente perpetuação da dependência.

Biografia do Autor

Isabela Ramos Ribeiro, Universidade de Brasília (UnB)

Professora do Departamento de Serviço Social da Universidade de Brasília (UnB). Membro do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Fundo Público, Orçamento, Hegemonia e Política Social (FOHPS), na linha de pesquisa "Estado, hegemonia e política na América Latina".

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2021-10-07

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Artigos