Inferência da melhor explicação: Darwin e a adaptação

Autores

  • Marcos Rodrigues da Silva Universidade Estadual de Londrina, UEL

Palavras-chave:

adaptação, Darwin, inferência da melhor explicação

Resumo

Realistas científicos estabeleceram a tese de que o sucesso da ciência pode ser filosoficamente explicado com base na confiabilidade metodológica decorrente do uso de inferências eliminativas e assim seria possível se estar seguro de que as teorias bem sucedidas devem ser aceitas em função unicamente de seus méritos epistemológicos, ontológicos e comparativos (superioridade em relação a teorias rivais). O argumento realista adotado para essa discussão é o argumento (eliminativista) da inferência da melhor explicação: a) um fenômeno precisa ser explicado; b) uma teoria T explica melhor o fenômeno do que outras teorias rivais; c) logo, há boas razões para se aceitar T. O argumento tem sofrido diversas críticas, diretas ou indiretas; contudo, tais críticas são gerais; esse artigo procura destacar, para fins de análise crítica, a premissa (a) (a qual tem por objetivo oferecer uma aparência de estabilidade ontológica para teorias rivais que, assim, concorreriam para explicar o mesmo fenômeno). No que diz respeito à premissa (a), o trabalho do historiador e filósofo da biologia Gustavo Caponi defende a ideia de que o que é conhecido como “adaptação” não possui identidade semântica quando a palavra aparece na tradição da teologia natural e história natural e quando é empregada para designar um elemento da teoria de Charles Darwin; ou seja: embora tanto a teologia natural/história natural quanto Darwin tenham usado a palavra “adaptação”, seus sentidos eram bastante diferentes. Para Caponi, “adaptação”, no sentido da teologia natural/história natural significa um fato estabelecido que necessitava de uma explicação; para Darwin, “adaptação” significava um problema gerado pela teoria da seleção natural. Assim, a teologia natural/história natural e Darwin não compartilhariam o fenômeno da adaptação e portanto a inferência da melhor explicação não captaria o significado da novidade introduzida por Darwin. 

Biografia do Autor

Marcos Rodrigues da Silva, Universidade Estadual de Londrina, UEL

Professor do Departmento de Filosofia da UEL e doutor em filosofia pela universidade de São Paulo

Referências

AYALA, F. “La selección natural como explicación causal em lá evolución biológica”, Historia y explicación em biologia. Cidade do México: Ediciones Científicas Universitarias, 1998.

BAIRD, Davis. Thing Knowledge. Berkeley: University of California Press, 2004.

BIRD, Alexander. “Inference da Única Explicação”, Cognitio, Vol. 15, n. 2, pp. 375-384, 2017.

BIRD, Alexander. Philosophy of Science. Montreal: Mcgill-Queen’s University Press, 1998.

BIRD. Alexander. “Scientific Revolutions and Inference to the Best Explanation”, Danish Yearbook of Philosophy, Vol. 34, n. 1, pp. 25-42, 34, 1999.

BLANC, Marcel. Os Herdeiros de Darwin. São Paulo: Página Aberta, 1994.

BOYD, Richard. “Lex Orandi est Lex Credendi”, Images of Science (ed. Churchland, P. & Hooker, C.), pp. 1-15, Chicago: Chicago Press, 1985.

BOYD, Richard. “Realism, Approximate Truth, and Method”, Minnesota Studies in the Philosophy of Science, v. XIV (ed Savage, C. W.). Minneapolis: University of Minnesota Press, 1990.

CAPONI, Gustavo. La Segunda Agenda Darwiniana. Cidade do México: Centro de Estudios Filosóficos, Políticos y Sociales Vicente Lombardo Toledano, 2011.

CARTWRIGHT, Nancy. How the Laws of Physics Lie. Oxford: Clarendon Press, 1983.

CHAKRAVARTTY, Anjan. “Scientific Realism”, Stanford Encyclopedia of Philosophy, 2017.

DARWIN, Charles. On the origin of species. 6. Ed. London: John Murray, 1872.

DEVITT, Michael. Realism and Truth. 2. Ed. Princeton: Princeton University Press, 1997.

DOPPELT, Gerald. “Values in Science”, The Routledge Companion to Philosophy of Science (2. ed.). Nova York: Routledge, 2014.

FEYERABEND, Paul. Against Method (3. ed.). Londres: Verso, 1993.

GOULD, Stephen Jay. “Da Transmutação da Lei de Boyle à Revolução de Darwin”. In: Evolução: Sociedade, Ciência e Universo (Fabian, Andrew (ed.)). Bauru: Edusc, 2003.

GOULD, Stephen Jay. The Structure of Evolutionary Theory. Cambridge: Harvard University Press, 2002.

HANSON, Norwood. Patterns of Discovery. Cambridge: Cambridge University Press, 1958.

HARMAN, Gilbert. “Inferência da Melhor Explicação”. Dissertatio, Vol. 47, pp. 325-332, 2018.

KUKLA, Andre. Studies in Scientific Realism. Oxford: Oxford University Press, 1998.

LEPLIN, Jarret. A novel defense of scientific realism. Oxford: Oxford University Press, 1997.

LIPTON, Peter. “O melhor é bom o suficiente?”, Princípios, Vol. 17, n. 27, pp. 313-329, 2010.

LIPTON, Peter. Inference to the Best Explanation. 2. Ed. London: Routledge, 2004.

MAYR, Ernst. The Growth of Biological Thought. Cambridge: Harvard University Press, 1982.

NEWTON-SMITH, William. “Underdetermination of Theory by Data”, A Companion to the Philosophy of Science. (Newton-Smith, W. (ed.).) Londo : Blackwell, 2000.

PSILLOS, S. “The Fine Structure of Inference to the Best Explanation”, Philosophy and Phenomenological Research”, LXXIV, n. 2, 2007.

PSILLOS, Stathis. “Sobre a crítica de van Fraassen ao raciocínio abdutivo”, Crítica, vol. 6, n. 21, pp. 35-62, 2000.

PSILLOS, Stathis. “The Fine Structure of Inference to the Best Explanation”. Philosophy and Phenomenological Research”, Vol. LXXIV, n. 2, pp. 441-448, 2007.

PSILLOS, Stathis. Scientific Realism: How Science Tracks Truth. London: Routledge, 1999.

THAGARD, Paul. “A melhor explicação: critérios para a escolha de teorias”. Cognitio, Vol. 18, n. 1, pp. 145-160, 2017.

Downloads

Publicado

2020-10-03