Sartre e o duplo percurso de análise da realidade humana: psicanálise existencial e método progressivo-regressivo

Autores

Palavras-chave:

Fenomenologia, Contingência, Psicanálise existencial, Método progressivo-regressivo

Resumo

Sartre, ao longo de sua produção, elaborou duas perspectivas metodológicas concêntricas no tocante à compreensão da realidade humana: a psicanálise existencial e o método progressivo-regressivo. Essa dupla caracterização serve de suporte teórico-metodológico para a sua filosofia existencialista, assim como para uma práxis psicológica e psicopatológica. Nessa direção, quais foram as diversas etapas percorridas pelo filósofo no sentido de dar vazão a esse programa? Ora, elas podem ser reconstituídas da seguinte forma: (1) primeiramente, pelo seu pensamento pré-berlinense, cujas bases estão pautadas nas teses: (a) da contingência, que remonta ao ano de 1924; (b) de um mundo de sentido, que se opõe ao mundo desencantado da ciência, bem como se opõe aos obstáculos das filosofias idealistas; (c) da descoberta sobre a fenomenologia, buscando o significado de objetos e de seres no regime das aparências; (2) depois, pela fenomenologia propriamente dita, teoria que propiciou uma expansão do pensamento pré-berlinense sob a égide da busca por elementos concretos; (3) e, mais tarde, o surgimento de sua psicanálise existencial – método fenomenológico de investigação e compreensão da experiência psicológica e que tem ponto de referência na psicanálise freudiana e, por último, (4) o método progressivo-regressivo, inspirado diretamente na leitura marxista de Henri Lefebvre, pensador que busca compreender a condição humana mediante o reconhecimento de um sujeito universal/singular que se constitui e é constituído nas relações, em um movimento dialético. Em suma, o que Sartre faz, em seu programa de investigação, é explicitar o fundamento ontológico da realidade humana, que se dá na dialética entre a dimensão da objetividade (Ser) e da subjetividade (Nada). A ideia sartriana é, portanto, propor uma desfamiliarização da visão coisificada do sujeito, seja pelo determinismo biologicista ou pelo determinismo psíquico. Por isso a importância da tese da contingência, tese que se coloca como a dimensão da objetividade, do contexto material e social que envolve cada situação humana e na qual o sujeito tem de fazer as suas escolhas!

Biografia do Autor

Marivania Cristina Bocca, Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE

Psicóloga. Mestre em Psicologia Social e da Personalidade - PUC/RS. Doutranda em Filosofia - UNIOESTE - Toledo/Paraná

Claudinei Aparecido de Freitas da Silva, Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE

Professor da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE. Doutor em Filosofia pela Universidade Federal de São Carlos – UFSCar.

Daniela Ribeiro Schneider

Psicóloga, Mestre em Educação, Doutora em Psicologia Clínica, Pós-Doutora em Prevenção. Professora Titular do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina.

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Publicado

2020-02-03

Edição

Seção

Artigos - Temático